domingo, 3 de maio de 2009

A Queda

Sentir as leis da física diretamente na pele não é a coisa mais aconselhável do mundo, pelo menos na maneira que senti.
Sábado de solzinho tímido passeando entre nuvens de garoa, davam o tom pelo litoral norte de São Paulo nesse feriado prolongado.
Eu tinha um treino de 65km de pedal mais 11 de corrida... Sai da casa em Caraguá as 8:30 com destino a São Sebastião... é um percurso legal, plano, tem uma serrinha amena logo na divisa de São Sebastião e depois uns sobes e desces suaves, que não chega a judiar. Hora vento empurra, hora vento segura... Posicionamento clipado (clip= aquele apoio que fica no guidão da bike que nos permite acomodar os cotovelos) 35 por hora e essa é a pegaa. Eis que as leis da física decidem se manifestar.... O desequilíbrio, a queda e o arrasto por alguns metros (Ah Newton!!!)Derrepente assim... Estava na vertical e em um segundo fui para a horizontal.. Não sei como, nem porque... a minha explicação mais próxima é que havia um pequeno, mas pequeno mesmo desnível na pista e eu estava com óculos de lente muito escuras, só vi esse desnível na hora que eu estava sentado no chão... o fato de eu estar clipado, chão molhado e pneus careca como são os da bike, podem ter contribuído... não estava tentando pegar a garrafinha de água, nem mexendo no relógio da bike, nem olhando alguma gostosa passando... apenas cai e me arrastei.. bati a cabeça protegida pelo capacete e vi uma única estrela, parecia uma faisca... capacete, santo capacete. Parei uns 5 metros à frente... Ralei um pouco a panturrilha, o joelho e a lateral da coxa, ou lateral da bunda... não sei como chama esse lugar do corpo, mas é logo abaixo da cintura.
Bati forte o ombro... mas forte mesmo.... Na hora pensei que tivesse quebrado alguma coisa, o braço, o ombro... sou pesado demais e cair assim é osso... a força gravitacional exerce uma pancada bem maior...
Eu estava no acostamento e fui parar no meio da rua, que na verdade é a estrada, só que no perímetro urbano... Graças a Deus nenhum carro me ultrapassava no momento, senão daria merda...
É muito estranho a reação. A minha foi adrenalina a mil. Dor, preocupação, assustado, querendo entender o que aconteceu. A gente perde um pouco o rumo.
Os motoristas que vinham atrás pararam o carro e esperaram confortavelmente eu me retirar da rua.
Nenhum filho de uma puta que acompanhou a queda teve coragem de mexer a bunda de seus confortaveis carros e ajudar a me livrar da bike, minha sapatilha continuou presa no pedal. Foi um caiçara que passava de bike quem me ajudou a ir até a guia, recolheu minhas coisas, se preocupou, ofereceu ajuda, telefone... Não conseguia levantar o braço esquerdo e faltava um pouco o ar, mas fui me recompondo aos poucos... estava tudo bem e o bom samaritano se foi, eu estava de boa... fudido mas de boa...
Quando reparo bem, havia a uns 150 mt um carro da policia militar com dois soldados que acompanharam tudo e nada, absolutamente nada fizeram... desprezível...
Montei na bike torta e ralada e fui pedalando devagar... queria terminar o treino e tinha que correr ainda... eu estava legal... o ombro apenas doía e os ralados ardiam...
Dei uma parada para arrumar o clipe que entortou e encostou ao meu lado um ciclista querendo saber do tempo em caraguá, para treinar por aqueles lados...
Contei que sai de lá com tempo seco, ele reparou em meu estado. Eu disse do tombo, da dor do ombro e ele me sugeriu ir até um posto dos bombeiros a poucos metros dali... Não sei, mas esse pessoal que atende nos bombeiros, vêem tanta tragédia que se tornam pessoas diferentes, mais atenciosas, mais humanas e são tão militares quanto os que me viram no chão e nada fizeram.
Disseram para eu deixar a bike lá e me levaram no PS pra tirar um RX para desencargos...
Nenhum osso quebrado, apenas a porrada no ombro mesmo que o médico que me atendeu disse que iria doer... me receitou uma injeção de antinflamatório e voltei pra base... peguei minha bike, me deram água, suco e boa sorte... retornei sem maiores problemas, apenas sem os óculos escuros, pra ver bem por onde eu passava..
Fiz um treino quebrado, em todos os sentidos... não foi constante, mas consegui correr ainda ao invés de 11, 13 km...
O ombro doía com o balanço das passadas, mas consegui encaixar a corrida com poucos movimentos de braço e com isso meu ombro esquerdo estava praticamente parado.
Quando foi 6 da tarde o efeito da injeção havia terminado e eu estava vendo estrelas... Não conseguia levantar o braço mais do que a altura do ombro, tossir, espirrar, doía. Não consegui me vestir sozinho. Voltei para o hospital, agora em caraguá mesmo... mais duas chapas de RX e nada, mas a médica me encaminhou para um ortopedista.. lá não tinha um disponível no dia...
Outra injeção e consegui dormir um pouco...
Acordei muito melhor, e tomei mais dois antinflamatórios, e apliquei gelo várias vezes... Meu ombro recuperou os movimentos com dor, mas muito mais leve do que estava...
Vamos ver hoje como reajo sem medicamentos... senão vou a um ortopedista pra uma melhor avaliação...
É isso, voltei pra SampaCity apenas para resolver um probleminha, mas retorno para amanhã no final do dia..
É o que tem pra hoje...
(Putz... textinho grande esse)

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