sexta-feira, 19 de junho de 2009

Briga nos Jardins

Rosa era uma mulher elegante. Vaidosa e perfumada, inspirava poetas com sua imponente beleza. Pele suave como veludo porem delicada como um papel molhado. Aliás, orvalhada, a Rosa mais bela e charmosa ficava.
Certo dia decidiu seduzir seu vizinho, o Cravo. Um sujeito rústico de aparecia duvidosa.. Cabelos black power, simetricamente desarrumados, porém assiméticamente perfeitos... Verdadeiros pompons desfiados que lembravam uma bunda de coelho feito em papel brochura.
Rosa, não tinha amigos, apenas admiradores. Ela, não permita a aproximação mais intimista de ninguém.(Dizem as mas línguas das Margaridas que foi amor não retribuído de um Mandacarú cabra da peste) Queria apenas ser observada, desejada e isso lhe bastava. Ego.
Seu corpo, esbelto e espinhudo, impedia que os apaixonados a tocassem ou tentassem qualquer tipo de romance. Porém, em uma noite fresca de final de verão, Rosa dançava suave, leve e solta embalada pela brisa e iluminada pela simpática e enorme Lua. Estrategicamente sua pele orvalhada emanava um suave perfume pela vizinhança, hipnotizando o Cravo. Este como que em transe vai ao encontro de Rosa e cara a cara, frente a frente, respiração com respiração, tenta dançar com a excêntrica moça, que espeta-lhe um espinho e sorri maliciosamente. Cravo se aflige e tenta novamente uma aproximação, tentando toca-la pela cintura, queria apenas dançar e fazer parte de um momento na vida de flor.. pufff outro espinho o fere e dessa vez ele solta um gemido mais alto e acorda o Seu Gerânio que dormia pendurado na sacada logo acima da cena. Seu Gerânio procura os óculos e ainda sonolento percebe a aflitiva condição do Cravo...
_Essa ai, não quer nada com ninguém, gosta de seduzir e só. O prazer da Rosa é sádico.
Cravo ainda encantado com tanta sensualidade, diz ao Gerânio:
_ Mas ela dança para mim! _Se perfumou para mim!!! _Ela sorri para mim!!!
Seu Gerânio, experiente na noite, tem a visão privilegiada pois tudo vê da floreira da sacada, apenas balança a cabeça de forma negativa.. tsc tsc tsc.
_Rosa não tem amor próprio ela se contenta em deixar apaixonado seu alvo da vez. Ego... Ego... Ego...
_Não confie nunca apenas na beleza de uma flor, ela pode te seduzir e te machucar, outras até te envenenam e algumas são possessivas. Quando tu perceber, já é tarde. Te sufocam, roubando sua energia.
Esquece isso, vai pra balada, faz amizade com umas Marias sem Vergonhas... São super alegres e gente fina, estão por todos os cantos, são simples e não tem tempo ruim, o único problema é que gostam de beber... Mas quanto mais bebem, mais belas ficam. Tem também as Damas da Noite que frequentam os botecos no centro, fácil de identificar pelo perfume barato, mas são ótimas ouvintes. Mas eu, particularmente gosto mesmo é das Trepadeiras sussurra Seu Gerânio, dando uma piscadela e pendendo ao ouvido do apaixonado Cravo.
O pobre Cravo deprimido se afasta, vai até para um boteco qualquer e enche a cara de NPK, pede um pedaço de torta de mamona e come com farinha, (de osso é claro).
A overdose de adubo o deixa transtornado.. Vozes imaginárias tomam conta da sua cabeça... Percebe bromélias desfocadas rindo e apontando para ele. Sente-se ridicularizado, enganado... Está puto da vida.. Vai para o pau...
Se aproxima da Rosa, a enxerga com a cara desfigurada por causa do porre e lhe acerta uma cabeçada.. Pétalas voam para todos os lados...
A Rosa tonta e despedaçada abraça o cravo como forma de espetar-lhe afiados espinhos enquanto o beijava com os olhos marejados. O Cravo retribui e sangra.
É gritaria nos Jardins. Margaridas saem na janela, Onze Horas despertam na madrugada.
Orquídeas olham com ar de reprovação: _Gente sem classe...
Seu Gerânio, boêmio vivido, se inspira com a trágica cena. Pega o violãozinho e compõe uma toada:


O Cravo brigou com a Rosa
Em baixo de uma sacada
O Cravo saiu ferido
E a Rosa despedaçada

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